quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O boato e a insinuação: do excesso de pudor à falta dele.

O boato surge. Ninguém sabe de onde, propaga-se em todas as direcções: de boca em boca, das elites ao Zézinho, ferve sempre sem autoria, alimentando a barriga daqueles que se deleitam com as "fofoquices" mais ou menos fedorentas.

A insinuação é diferente. É sempre possível dizer quem insinua (o sujeito da insinuação).

O problema é que a insinuação precisa de um “outro” - de alguém que a perceba ou subentenda aquilo que não foi dito mas que está implícito - para ter o seu “feed back” e até para ela, a insinuação, existir como tal. Neste sentido a insinuação engendra-se entre um sujeito (autor) e um outro, o “sujeito do subentendido”: ambos cientes do “alguma coisa mais” para além do dito.

Ou seja: a insinuação só tem plena eficácia quando já antes medra o boato.

É o famoso “vocês sabem do que estou a falar” ou o não menos famoso “você sabe que eu sei que você sabe que eu sei”.

Como um fungo que ataca um imunodeprimido, o boato prolifera. E porquê? Porque existe o falso pudor. E a insinuação aproveita-se deste pudor - deste tempero que se cola à boca - para existir e fazer-se ouvir como tal.

Quando se diz que alguém insinuou é preciso que se diga o que insinuou. Insinua-se que “alguém fez assim” ou “outrem é assado”. Ou então não se insinuou nada.

Os insinuadores, os meios que difundem a insinuação ou que a inventam ( ao distorcer, descontextualizar ou truncar uma frase tornando-a insinuação) e os visados ( os verdadeiros, os supostos e os parasitarios) têm em comum três coisas: a primeira é o falso pudor. A outra é mais inquietante: É que no fundo todos acham (têm o pré-conceito) que o povo, esse famoso Zé é preconceituoso. E finalmente a terceira: todos se tentam aproveitar.

É por isso que tudo se torna mais difuso e triste: é que a determinada altura não mais é possível saber quem insinuou e quem é vitima. Todos são vitimas e todos insinuam. Para delicia de todos.

O problema é que, conscientes do boato, todos parecem andar à procura de insinuações para confirmar ou fazerem proliferar o boato. Tudo parece, então, virar insinuação.

A culpa é de todos. E é sobretudo- nem pode deixar de ser- dos que gostam dos boatos. Que o alimentaram ou toleraram, que quiseram ouvir o “diz que me disse”. Que se riram entre dentes e que reproduziram o “disseram-me de fonte segura” . Depois fingem-se chocados quando o boato passa a insinuação. Haja tolerância quanto baste para tanta hipocrisia.


"Enfrenta corajosamente a vida, e não permitas que os boatos e as insinuações perturbem a tua serenidade"

1 comentário:

  1. Descansa Nuno.
    O Boato também caiu sobre mim. LOL
    Não sei porquê, nem por quem.
    Vai-se lá saber o propósito de tal boato. Se a intensão é destabilizar atitude e formas de estar, descansem que não nos atingem.
    A tua frase final diz tudo.
    Força e abraço

    Paulo Mónica

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