A insinuação é diferente. É sempre possível dizer quem insinua (o sujeito da insinuação).
O problema é que a insinuação precisa de um “outro” - de alguém que a perceba ou subentenda aquilo que não foi dito mas que está implícito - para ter o seu “feed back” e até para ela, a insinuação, existir como tal. Neste sentido a insinuação engendra-se entre um sujeito (autor) e um outro, o “sujeito do subentendido”: ambos cientes do “alguma coisa mais” para além do dito.
Ou seja: a insinuação só tem plena eficácia quando já antes medra o boato.
É o famoso “vocês sabem do que estou a falar” ou o não menos famoso “você sabe que eu sei que você sabe que eu sei”.
Como um fungo que ataca um imunodeprimido, o boato prolifera. E porquê? Porque existe o falso pudor. E a insinuação aproveita-se deste pudor - deste tempero que se cola à boca - para existir e fazer-se ouvir como tal.
Quando se diz que alguém insinuou é preciso que se diga o que insinuou. Insinua-se que “alguém fez assim” ou “outrem é assado”. Ou então não se insinuou nada.
Os insinuadores, os meios que difundem a insinuação ou que a inventam ( ao distorcer, descontextualizar ou truncar uma frase tornando-a insinuação) e os visados ( os verdadeiros, os supostos e os parasitarios) têm em comum três coisas: a primeira é o falso pudor. A outra é mais inquietante: É que no fundo todos acham (têm o pré-conceito) que o povo, esse famoso Zé é preconceituoso. E finalmente a terceira: todos se tentam aproveitar.
É por isso que tudo se torna mais difuso e triste: é que a determinada altura não mais é possível saber quem insinuou e quem é vitima. Todos são vitimas e todos insinuam. Para delicia de todos.
O problema é que, conscientes do boato, todos parecem andar à procura de insinuações para confirmar ou fazerem proliferar o boato. Tudo parece, então, virar insinuação.
A culpa é de todos. E é sobretudo- nem pode deixar de ser- dos que gostam dos boatos. Que o alimentaram ou toleraram, que quiseram ouvir o “diz que me disse”. Que se riram entre dentes e que reproduziram o “disseram-me de fonte segura” . Depois fingem-se chocados quando o boato passa a insinuação. Haja tolerância quanto baste para tanta hipocrisia.
"Enfrenta corajosamente a vida, e não permitas que os boatos e as insinuações perturbem a tua serenidade"
Descansa Nuno.
ResponderEliminarO Boato também caiu sobre mim. LOL
Não sei porquê, nem por quem.
Vai-se lá saber o propósito de tal boato. Se a intensão é destabilizar atitude e formas de estar, descansem que não nos atingem.
A tua frase final diz tudo.
Força e abraço
Paulo Mónica